Nota de Imprensa

As galáxias gigantes morrem de dentro para fora

Observações do VLT e do Hubble mostram que a formação estelar “se desliga” primeiro nos centros das galáxias elípticas

16 de Abril de 2015

Os astrónomos mostraram pela primeira vez como é que a formação estelar em galáxias “mortas” se desligou há milhares de milhões de anos atrás. O Very Large Telescope do ESO e o Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA revelaram que três milhares de milhões de anos após o Big Bang, estas galáxias ainda formavam estrelas nas suas periferias, mas isso já não acontecia nos seus interiores. O desligar da formação estelar parece ter-se iniciado nos núcleos das galáxias, espalhando-se depois para as regiões mais externas. Estes resultados serão publicados a 17 de abril de 2015 na revista Science.

Um dos principais mistérios da astrofísica prende-se com o facto de saber como é que as galáxias elípticas massivas adormecidas, bastante comuns no Universo atual, extinguiram as suas antes intensas taxas de formação estelar. Tais galáxias colossais, muitas vezes também chamadas esferóides devido à sua forma, possuem tipicamente dez vezes mais estrelas nas suas regiões centrais do que as que tem a nossa galáxia, a Via Láctea, e contêm também cerca de dez vezes mais massa.

Os astrónomos referem-se a estas galáxias como sendo vermelhas e mortas, uma vez que possuem uma enorme abundância de estrelas vermelhas velhas, mas falta-lhes estrelas azuis jovens, e não mostram sinais de formação estelar recente. As idades estimadas das estrelas vermelhas sugerem que as suas galáxias hospedeiras deixaram de formar novas estrelas há cerca de dez mil milhões de anos atrás. Este desligar da formação estelar começou logo após o pico de formação estelar no Universo, quando muitas galáxias ainda estavam a formar estrelas a uma taxa cerca de vinte vezes maior do que atualmente.

“Estas galáxias esferóides muito massivas contêm cerca de metade de todas as estrelas que o Universo produziu durante toda a sua vida,” disse Sandro Tacchella do ETH Zurich na Suíça, autor principal do artigo que descreve estes resultados. “Não podemos dizer que compreendemos como é que o Universo evoluiu e se tornou no que hoje é, se não compreendermos primeiro como é que estas galáxias evoluiram.”

Tacchella e colegas observaram um total de 22 galáxias de massas diferentes, numa época que corresponde a cerca de três mil milhões de anos depois do Big Bang [1]. O instrumento SINFONI montado no Very Large Telescope do ESO (VLT) colectou radiação desta amostra de galáxias, mostrando de modo preciso onde é que se encontravam as estrelas recém formadas. O SINFONI pode fazer estas medições detalhadas de galáxias distantes graças ao seu sistema de óptica adaptativa, que consegue cancelar a maior parte dos efeitos de distorção da atmosfera terrestre.

Os investigadores apontaram também o Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA à mesma amostra de galáxias, tirando partido da posição do telescópio no espaço, acima da atmosfera do nosso planeta. A câmara WFC3 do Hubble obteve imagens no infravermelho próximo, revelando a distribuição espacial das estrelas mais velhas no seio destas galáxias.

“O que é extraordinário é que o sistema de óptica adaptativa do SINFONI pode contrabalançar em grande parte os efeitos atmosféricos e dizer-nos onde é que estão a nascer as novas estrelas, fazendo-o com a mesma precisão com que o Hubble nos dá a distribuição de massas estelares,” comenta Marcella Carollo, também do ETH Zurich e co-autora do estudo.

De acordo com os novos dados, as galáxias mais massivas da amostra mantiveram uma produção estável de novas estrelas nas suas periferias. Contudo, nos seus centros densamente populados, a formação estelar já se encontrava desligada nesta altura.

“Esta, agora demonstrada, paragem da formação estelar a ocorrer de dentro para fora em galáxias massivas deverá ajudar-nos a compreender os mecanismos subjacentes envolvidos, os quais têm sido extensivamente debatidos desde há muito tempo no seio da comunidade astronómica, “ diz Alvio Renzini, do Observatório de Pádua, Instituto Nacional de Astrofísica italiano.

Uma teoria promissora para explicar este fenómeno é que os materiais necessários à formação das estrelas se espalhem em correntes de energia libertadas pelo buraco negro supermassivo central da galáxia, à medida que este devora enormes quantidades de matéria. Outra ideia diz que o gás deixa de fluir para o interior da galáxia, deixando-a sem combustível para formar novas estrelas e transformando-a num esferóide vermelho e morto.

“Há muitas sugestões teóricas diferentes para explicar os mecanismos físicos que levaram à morte destes esferóides massivos,” diz a co-autora Natascha Förster Schreiber, do Max-Planck-Institut für extraterrestrische Physik em Garching, Alemanha. “Descobrir que a extinção da formação estelar começou nos centros, tendo depois progredido para o exterior da galáxia é um passo muito importante para compreender como é que o Universo se transformou no que hoje é.”

Notas

[1] A idade do Universo é cerca de 13,8 mil milhões de anos, por isso as galáxias estudadas por Tacchella e colegas são vistas, de modo geral, como eram há mais de 10 mil milhões de anos atrás.

Informações adicionais

Este trabalho foi descrito num artigo científico intitulado “Evidence for mature bulges and an inside-out quenching phase 3 billion years after the Big Bang” de S. Tacchella et al., que será publicado a 17 de abril de 2015 na revista Science.

A equipa é composta por Sandro Tacchella (ETH Zurich, Suíça), Marcella Carollo (ETH Zurich), Alvio Renzini (Instituto Nacional de Astrofísica, Pádua, Itália), Natascha Förster Schreiber (Max-Planck-Institut für Extraterrestrische Physik, Garching, Alemanha), Philipp Lang (Max-Planck-Institut für Extraterrestrische Physik), Stijn Wuyts (Max-Planck-Institut für Extraterrestrische Physik), Giovanni Cresci (Istituto Nazionale di Astrofisica), Avishai Dekel (Universidade Hebraica, Israel), Reinhard Genzel (Max-Planck-Institut für extraterrestrische Physik e University of California, Berkeley, California, EUA), Simon Lilly (ETH Zurich), Chiara Mancini (Instituto Nacional de Astrofísica italiano), Sarah Newman (University of California, Berkeley, California, EUA), Masato Onodera (ETH Zurich), Alice Shapley (University of California, Los Angeles, EUA), Linda Tacconi (Max-Planck-Institut für Extraterrestrische Physik, Garching, Alemanha), Joanna Woo (ETH Zurich) e Giovanni Zamorani (Instituto Nacional de Astrofísica, Bolonha, Itália).

O ESO é a mais importante organização europeia intergovernamental para a investigação em astronomia e é de longe o observatório astronómico mais produtivo do mundo. O ESO é  financiado por 16 países: Alemanha, Áustria, Bélgica, Brasil, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Itália, Polónia, Portugal, Reino Unido, República Checa, Suécia e Suíça, assim como pelo Chile, o país de acolhimento. O ESO destaca-se por levar a cabo um programa de trabalhos ambicioso, focado na concepção, construção e operação de observatórios astronómicos terrestres de ponta, que possibilitam aos astrónomos importantes descobertas científicas. O ESO também tem um papel importante na promoção e organização de cooperação na investigação astronómica. O ESO mantém em funcionamento três observatórios de ponta no Chile: La Silla, Paranal e Chajnantor. No Paranal, o ESO opera  o Very Large Telescope, o observatório astronómico óptico mais avançado do mundo e dois telescópios de rastreio. O VISTA, o maior telescópio de rastreio do mundo que trabalha no infravermelho e o VLT Survey Telescope, o maior telescópio concebido exclusivamente para mapear os céus no visível. O ESO é um parceiro principal no ALMA, o maior projeto astronómico que existe atualmente. E no Cerro Armazones, próximo do Paranal, o ESO está a construir o European Extremely Large Telescope (E-ELT) de 39 metros, que será “o maior olho do mundo virado para o céu”.

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Este texto é a tradução da Nota de Imprensa do ESO eso1516, cortesia do ESON, uma rede de pessoas nos Países Membros do ESO, que servem como pontos de contacto local com os meios de comunicação social, em ligação com os desenvolvimentos do ESO. A representante do nodo português é Margarida Serote.

Sobre a Nota de Imprensa

Nº da Notícia:eso1516pt
Nome:Galaxies
Tipo:Early Universe : Galaxy : Type : Elliptical
Facility:Hubble Space Telescope, Very Large Telescope
Instrumentos:SINFONI
Science data:2015Sci...348..314T

Imagens

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A galáxia elíptica IC 2006
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