Nota de Imprensa
Um útero estelar moldado e destruído por progenitura ingrata
2 de Julho de 2014
A pouco conhecida nuvem de gás e poeira cósmica chamada Gum 15 é o local de nascimento e moradia de estrelas jovens massivas. Bonitas mas mortíferas, estas estrelas moldam a aparência da nebulosa materna e, à medida que avançam para a idade adulta, serão eventualmente a causa da sua morte.
Esta imagem foi obtida no âmbito do programa Jóias Cósmicas do ESO [1] com o instrumento Wide Field Imager montado no telescópio MPG/ESO de 2,2 metros, no Observatório de La Silla, no Chile. A imagem mostra a Gum 15, situada na constelação da Vela, a cerca de 3000 anos-luz de distância da Terra [2]. Esta nuvem brilhante é um bom exemplo de uma região HII [3]. Estas nuvens formam alguns dos objetos astronómicos mais espetaculares que vemos; por exemplo a Nebulosa da Águia (que inclui os bem conhecidos “Pilares da Criação”), a enorme Nebulosa de Orion e este exemplo menos famoso, a Gum 15.
O hidrogénio (H) é o elemento mais abundante no Universo e pode ser encontrado em praticamente qualquer meio investigado pelos astrónomos. As regiões HII são diferentes porque contêm quantidades substanciais de hidrogénio ionizado - átomos de hidrogénio que perderam os seus electrões devido a interações com fotões ultravioletas de alta energia - partículas de luz. À medida que os núcleos do hidrogénio ionizado recapturam os electrões, libertam radiação de um característico comprimento de onda vermelho, o que dá às nebulosas, tais como a Gum 15, este brilho avermelhado - um brilho a que os astrónomos chamam hidrogénio alfa (Hα).
Nas regiões HII os fotões ionizantes são emitidos pelas estrelas jovens massivas muito quentes da região e a Gum 15 não é exceção. No centro da imagem podemos ver uma das culpadas: a estrela HD 74804, o membro mais brilhante de um enxame estelar chamado Collinder 197.
A aparência nodosa e irregular que aumenta a beleza desta nebulosa não é invulgar numa região HII e é, uma vez mais, resultado das estrelas que se encontram no seu interior. As regiões HII têm diversas formas porque a distribuição das estrelas e do gás no seu interior é muito irregular. A acrescentar à forma interessante da Gum 15, temos ainda uma zona escura bifurcada de poeira obscurante visível no centro da imagem e algumas estruturas de reflexão ténues azuis que a atravessam. Esta estrutura na poeira faz com que a nebulosa pareça uma versão maior e mais ténue da bem conhecida Nebulosa Trífida (Messier 20), embora neste caso o nome bífida fosse mais apropriado.
Uma região HII como esta pode dar origem a milhares de estrelas durante um período de vários milhões de anos. Estas estrelas esculpem a forma da nebulosa ao mesmo tempo que a fazem brilhar, e são também elas que eventualmente a destruirão. Assim que as estrelas recém formadas passam as primeiras fases da sua evolução, fortes ventos de partículas são lançados pelas estrelas, esculpindo e dispersando os gases em seu redor. Quando as mais massivas destas estrelas começarem a morrer, a Gum 15 morrerá com elas, já que estas estrelas são tão grandes que terminarão as suas vidas em explosões de supernova, dispersando os últimos restos de HII e deixando para trás apenas um enxame de estrelas jovens.
Notas
[1] O programa Jóias Cósmicas do ESO visa obter imagens de objetos interessantes, intrigantes ou visualmente atrativos, utilizando os telescópios do ESO, para efeitos de educação e divulgação científica. O programa utiliza tempo de telescópio que não pode ser usado em observações científicas. Todos os dados obtidos podem ter igualmente interesse científico e são por isso postos à disposição dos astrónomos através do arquivo científico do ESO.
[2] O nome deste objeto vem do astrónomo australiano Collin Gum, que publicou um catálogo de regiões HII em 1955.
[3] As regiões HII são enormes nuvens de gás e poeira onde ocorrem episódios de formação estelar e onde vivem estrelas recém formadas.
Informações adicionais
O ESO é a mais importante organização europeia intergovernamental para a investigação em astronomia e é o observatório astronómico mais produtivo do mundo. O ESO é financiado por 15 países: Alemanha, Áustria, Bélgica, Brasil, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Itália, Portugal, Reino Unido, República Checa, Suécia e Suíça. O ESO destaca-se por levar a cabo um programa de trabalhos ambicioso, focado na concepção, construção e funcionamento de observatórios astronómicos terrestres de ponta, que possibilitam aos astrónomos importantes descobertas científicas. O ESO também tem um papel importante na promoção e organização de cooperação na investigação astronómica. O ESO mantém em funcionamento três observatórios de ponta, no Chile: La Silla, Paranal e Chajnantor. No Paranal, o ESO opera o Very Large Telescope, o observatório astronómico óptico mais avançado do mundo e dois telescópios de rastreio. O VISTA, o maior telescópio de rastreio do mundo que trabalha no infravermelho e o VLT Survey Telescope, o maior telescópio concebido exclusivamente para mapear os céus no visível. O ESO é o parceiro europeu do revolucionário telescópio ALMA, o maior projeto astronómico que existe atualmente. O ESO encontra-se a planear o European Extremely Large Telescope, E-ELT, um telescópio de 39 metros que observará na banda do visível e do infravermelho próximo. O E-ELT será “o maior olho do mundo virado para o céu”.
Links
- Fotografias do telescópio MPG/ESO de 2,2 metros
- Outras imagens obtidas com o telescópio MPG/ESO de 2,2 metros
- Fotografias de La Silla
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Sobre a Nota de Imprensa
Nº da Notícia: | eso1420pt |
Nome: | Gum 15 |
Tipo: | Milky Way : Nebula : Type : Star Formation |
Facility: | MPG/ESO 2.2-metre telescope |
Instrumentos: | WFI |