Nota de Imprensa
VISTA observa as profundezas do Cosmos
Baú do tesouro com novos dados infravermelhos disponível aos astrónomos
21 de Março de 2012
O telescópio VISTA do ESO criou a maior imagem de campo profundo do céu no infravermelho. Esta nova imagem de uma zona vulgar do céu foi obtida no âmbito do rastreio UltraVISTA e revela-nos mais de 200 000 galáxias. É apenas uma parte de uma enorme coleção de imagens completamente processadas de todos os rastreios VISTA, que foram postas à disposição de todos os astrónomos do mundo pelo ESO. O UltraVISTA é um baú do tesouro que está a ser utilizado no âmbito do estudo de galáxias distantes no Universo primordial, assim como em muitos outros projetos científicos.
O telescópio VISTA do ESO foi apontado repetidamente à mesma zona do céu para que acumulasse lentamente a radiação muito fraca emitida pelas galáxias mais distantes. Para criar esta imagem foram combinadas um total de mais de seis mil exposições separadas, correspondentes a um tempo de exposição efetivo total de 55 horas, obtidas através de cinco filtros de cor diferentes. Esta imagem do rastreio UltraVISTA é a mais profunda [1] alguma vez obtida no infravermelho para uma região do céu deste tamanho.
O telescópio VISTA instalado no Observatório do Paranal do ESO, no Chile, é o maior e mais poderoso telescópio infravermelho de rastreio que existe atualmente. Desde que começou as operações em 2009 (eso0949) a maior parte do seu tempo de observação tem sido dedicado a rastreio públicos, alguns cobrindo grandes zonas do céu austral e outros focando-se em áreas mais pequenas. O rastreio UltraVISTA tem-se dedicado ao campo COSMOS ([2], eso1124, heic0701), uma região do céu aparentemente quase vazia, que já foi extensamente estudada com o auxílio de outros telescópios, incluindo o Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA [3]. O UltraVISTA é o mais profundo dos seis rastreios VISTA, revelando por isso os objetos mais ténues.
Os dados dos rastreios VISTA - num total de mais de 6 terabytes de imagens - estão a ser processados em centros de dados no Reino Unido, e no caso particular do UltraVISTA em França, e começam agora a regressar ao arquivo científico do ESO, onde são postos à disposição dos astrónomos do mundo inteiro.
À primeira vista, a imagem UltraVISTA parece banal, apresentando umas quantas estrelas brilhantes e um salpicado de outras mais ténues. No entanto, quase todos os objetos mais ténues não são estrelas da Via Láctea, mas sim galáxias muito remotas, cada uma contendo milhares de milhões de estrelas. Aumentando a imagem de modo a encher o écran e fazendo um zoom, podemos observar cada vez mais objetos, sendo que a imagem apresenta mais de 200 000 galáxias no total.
A expansão do Universo desloca a radiação emitida por objetos distantes na direção dos grandes comprimentos de onda, o que significa que, e para a radiação estelar emitida pelas galáxias mais distantes que conseguimos observar, uma grande parte desta radiação, quando chega à Terra, se encontra na região infravermelha do espectro. Como telescópio infravermelho altamente sensível que é e possuindo um campo de visão muito grande, o VISTA está particularmente bem apetrechado para descobrir estas galáxias distantes do Universo primordial. Ao estudar galáxias com a radiação deslocada para o vermelho, a distâncias sucessivamente maiores, os astrónomos podem igualmente estudar como é que as galáxias se formam e evoluem ao longo da história do cosmos.
Uma inspeção detalhada da imagem revela-nos dezenas de milhares de objetos avermelhados anteriormente desconhecidos espalhados no meio das mais numerosas galáxias de cor creme. São essencialmente galáxias muito remotas que estamos a observar quando o Universo tinha apenas uma pequena fracção da sua idade atual. Estudos anteriores das imagens do UltraVISTA, combinadas com imagens de outros telescópios, revelaram a presença de muitas galáxias que são observadas quando o Universo tinha menos de um milhar de milhão de anos e algumas são observadas ainda em tempos mais remotos.
Embora esta imagem UltraVISTA seja já a imagem infravermelha deste tamanho mais profunda que existe, as observações continuam. O resultado final, daqui a alguns anos, será uma imagem significativamente mais profunda.
Os rastreios são indispensáveis aos astrónomos e por isso o ESO organizou um programa [4] que permitirá que a vasta herança de dados, tanto do VISTA como do seu companheiro na radiação visível, o VLT Survey Telescope (VST, eso1119), esteja à disposição dos astrónomos durante as próximas décadas.
Notas
[1] Os astrónomos usam a palavra profundo para classificar imagens que foram obtidas com um tempo de exposição total muito longo, e onde se conseguem por isso detectar objetos extremamente ténues. Normalmente são obtidas muitas exposições mais curtas, que são posteriormente digitalmente combinadas.
[2] O rastreio UltraVISTA tirou imagens do campo COSMOS situado na constelação do Sextante. Esta região do céu foi mapeada por muitos telescópios, de modo que uma série de estudos e investigações podem beneficiar desta riqueza de dados. O UltraVISTA cobre 1.5 graus quadrados, o que corresponde a cerca de oito vezes a área da Lua Cheia e é apenas ligeiramente menor que o campo COSMOS completo.
[3] As novas observações UltraVISTA dão-nos imagens infravermelhas muito profundas do campo COSMOS, que complementam observações a diferentes comprimentos de onda obtidas por outros telescópios, tanto no solo como no espaço.
[4] Os dados dos telescópios do ESO são normalmente colocados num enorme arquivo digital. No entanto, uma nova iniciativa, chamada Fase 3, está a recolher dados do ESO já processados por grupos de astrónomos na Europa, pondo-os seguidamente à disposição da comunidade científica. O processamento de imagens astronómicas muito grandes, tais como as que são obtidas com os telescópios de rastreio, é algo bastante complexo que requer tanto meios computacionais muito potentes como conhecimento de especialistas. É por isso que o fornecimento de dados uniformes completamente processados e descritos de modo detalhado, em alternativa aos dados não tratados que saem diretamente do telescópio, ajuda enormemente a comunidade científica a tirar o melhor partido deles.
Informações adicionais
O ano de 2012 marca o quinquagésimo aniversário da fundação do Observatório Europeu do Sul (ESO). O ESO é a mais importante organização europeia intergovernamental para a investigação em astronomia e é o observatório astronómico mais produtivo do mundo. O ESO é financiado por 15 países: Alemanha, Áustria, Bélgica, Brasil, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Itália, Portugal, Reino Unido, República Checa, Suécia e Suíça. O ESO destaca-se por levar a cabo um programa de trabalhos ambicioso, focado na concepção, construção e funcionamento de observatórios astronómicos terrestres de ponta, que possibilitam aos astrónomos importantes descobertas científicas. O ESO também tem um papel importante na promoção e organização de cooperação na investigação astronómica. O ESO mantém em funcionamento três observatórios de ponta, no Chile: La Silla, Paranal e Chajnantor. No Paranal, o ESO opera o Very Large Telescope, o observatório astronómico óptico mais avançado do mundo e dois telescópios de rastreio. O VISTA, o maior telescópio de rastreio do mundo que trabalha no infravermelho e o VLT Survey Telescope, o maior telescópio concebido exclusivamente para mapear os céus no visível. O ESO é o parceiro europeu do revolucionário telescópio ALMA, o maior projeto astronómico que existe atualmente. O ESO encontra-se a planear o European Extremely Large Telescope, E-ELT, um telescópio da classe dos 40 metros que observará na banda do visível e próximo infravermelho. O E-ELT será “o maior olho no céu do mundo”.
Links
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Sobre a Nota de Imprensa
Nº da Notícia: | eso1213pt |
Nome: | COSMOS Field |
Tipo: | Early Universe : Cosmology : Morphology : Deep Field |
Facility: | Visible and Infrared Survey Telescope for Astronomy |
Instrumentos: | VIRCAM |