Nota de Imprensa

Teoria Planetária Virada do Avesso

13 de Abril de 2010

A descoberta de nove novos exoplanetas em trânsito é hoje anunciada no Encontro Nacional de Astronomia do Reino Unido (RAS National Astronomy Meeting, NAM2010). Quando estes novos resultados foram combinados com observações anteriores de exoplanetas em trânsito, os astrónomos surpreenderam-se com o facto de seis deles, numa amostragem de 27, orbitarem na direcção oposta à da rotação da estrela hospedeira - precisamente o contrário do que se passa no nosso Sistema Solar. Estas novas descobertas põem em causa, de maneira séria e inesperada, as actuais teorias de formação planetária. As novas observações sugerem igualmente que sistemas com exoplanetas do tipo Júpiter quente não deverão, muito provavelmente, conter planetas do tipo da Terra.

“Esta é uma verdadeira bomba que estamos a lançar sobre o campo dos exoplanetas,” diz Amaury Triaud, estudante de doutoramento no Observatório de Genebra que, juntamente com Andrew Cameron e Didier Queloz, lidera a maior parte da campanha observacional.

Pensa-se que os planetas se formam no disco de gás e poeira que circunda a estrela jovem. Este disco protoplanetário roda na mesma direcção da própria estrela, e até agora esperava-se que os planetas formados a partir desse disco orbitariam, mais ou menos, no mesmo plano e que se moveriam ao longo das suas órbitas na mesma direcção que a rotação da estrela. É o caso dos planetas do Sistema Solar.

Depois da detecção inicial dos nove novos exoplanetas [1] com o instrumento WASP (do inglês, Wide Angle Search for Planets [2]), a equipa de astrónomos utilizou diversos outros aparelhos para confirmar as descobertas e caracterizar os exoplanetas em trânsito encontrados tanto neste novo rastreio como nos mais antigos: o espectrógrafo HARPS, montado no telescópio de 3.6 metros do ESO, no observatório de La Silla, Chile, dados do telescópio suíço Euler, também em operação em La Silla, e ainda dados de outros telescópios [3].

Surpreendentemente, quando a equipa combinou os novos dados com observações mais antigas, descobriu que mais de metade de todos os exoplanetas do tipo Júpiter quente [4] estudados têm órbitas desalinhadas com o eixo de rotação das suas estrelas hospedeiras. A equipa descobriu inclusivamente que seis exoplanetas desta extensa amostragem (dos quais dois são novas descobertas) têm movimentos retrógrados: orbitam a sua estrela na direcção “errada”.

“Estes novos resultados desafiam claramente o conhecimento convencional de que os planetas devem sempre orbitar na mesma direcção da rotação das suas estrelas,” diz Andrew Cameron da Universidade de St Andrews, que apresentou estes novos resultados no Encontro Nacional de Astronomia do Reino Unido, que tem lugar esta semana em Glasgow.

A origem dos exoplanetas do tipo Júpiter quente tem sido um enigma, desde a descoberta do primeiro há 15 anos atrás. São planetas com massa similares ou maiores que a de Júpiter, mas que orbitam muito próximo da sua estrela. Pensa-se que os núcleos dos planetas gigantes se formam de uma mistura de partículas de rocha e gelo, material que se encontra apenas nas regiões mais frias e afastadas do sistema planetário. Desde modo, estes exoplanetas devem formar-se longe da sua estrela e subsequentemente migrar para órbitas mais interiores, muito mais próximas da estrela hospedeira. Muitos astrónomos pensam que este fenómeno se deve a interacções gravitacionais com o disco de poeira a partir do qual se formam. Este cenário desenrola-se ao longo de alguns milhões de anos e resulta numa órbita alinhada com o eixo de rotação da estrela hospedeira. Este cenário permite igualmente a formação subsequente de planetas rochosos do tipo da Terra. Infelizmente esta teoria não explica as novas observações.

Para explicar os novos exoplanetas retrógrados agora descobertos uma teoria de migração alternativa sugere que a proximidade deste tipo de exoplanetas às suas estrelas não se deve a interacções com o disco de poeira, mas sim a um processo de evolução mais lento que envolve uma “luta” gravitacional com companheiros planetários ou estelares mais distantes, durante centenas de milhões de anos. Depois destas perturbações gravitacionais levarem um exoplaneta gigante a uma órbita inclinada e alongada, este sofrerá fricções de maré, perdendo energia de cada vez que a sua órbita o aproxima da estrela. Deste modo, ficará eventualmente “estacionado” numa órbita quase circular mas inclinada de maneira aleatória, próximo da estrela hospedeira. “Um efeito secundário dramático deste processo seria o de que qualquer pequeno planeta do tipo da Terra seria varrido destes sistemas,” diz Didier Queloz do Observatório de Genebra.

Dois dos novos exoplanetas retrógrados descobertos mostraram já ter companheiros de grande massa, mais distantes, que poderiam ser as potenciais causas deste efeito. Estes novos resultados irão despoletar uma busca intensa de corpos adicionais noutros sistemas planetários.

Este trabalho foi apresentado no Encontro Nacional de Astronomia do Reino Unido (NAM2010, do inglês United Kingdom National Astronomy Meeting) que está a ter lugar esta semana em Glasgow, na Escócia. Nove publicações científicas submetidas em revistas internacionais da especialidade sairão nesta ocasião, quatro das quais utilizam dados obtidos com as infraestruturas do ESO. Na mesma ocasião, o consórcio WASP obteve um prémio da Royal Astronomical Society (2010 Royal Astronomical Society Group Achievement Award).

Notas

[1] A contagem mais recente é de 454 exoplanetas conhecidos.

[2] Os nove novos exoplanetas foram descobertos pelo instrumento WASP (do inglês Wide Angle Search for Planets). O WASP tem dois observatórios robóticos, cada um com oito câmaras de grande ângulo que monitorizam o céu simultaneamente e continuamente à procura de eventos de trânsito planetário. Um trânsito ocorre quando um planeta passa em frente da sua estrela hospedeira, bloqueando temporariamente parte da radiação emitida pela estrela. As oito câmaras de grande ângulo conseguem monitorizar milhões de estrelas em simultâneo, no sentido de detectar estes raros acontecimentos de trânsito. As câmaras WASP são operadas por um consórcio que inclui a Queen’s University de Belfast, as Universidades de Keele, Leicester e St. Andrews, a Open University, o Grupo Isaac Newton de La Palma e o Instituto Astrofisica Canarias.

[3] Para confirmar a descoberta e caracterizar um novo planeta em trânsito, é necessário fazer um estudo de velocidade radial para detectar as oscilações da estrela hospedeira em torno do centro de massa comum (estrela + planeta). Isto é feito com uma rede internacional de telescópios equipados com espectrómetros sensíveis. No hemisfério norte o Nordic Optical Telescope nas ilhas Canárias e o instrumento SOPHIE montado no telescópio de 1.93 metros do Observatório de Haute Provence em França lideram a busca. No sul, o HARPS montado no telescópio de 3.6 metros do ESO e o espectrómetro CORALIE montado no telescópio suíço EULER, ambos em La Silla, foram utilizados para confirmar a descoberta dos novos planetas e medir o ângulo que a órbita de cada planeta faz com o equador da respectiva estrela. Os telescópios robóticos Faulkes no Observatório Las Cumbres, situados no Hawai e Austrália, forneceram medições de brilho para a determinação do tamanho dos planetas. Observações subsequentes dos candidatos a exoplaneta WASP foram obtidas pelo telescópio suíço Euler em La Silla, Chile (em colaboração com colegas do Observatório de Genebra), pelo Nordic Optical Telescope em La Palma e pelo telescópio de 1.93 metros do Observatório de Haute Provence em França (em colaboração com colegas do Institut d'Astrophysique de Paris e do Laboratoire d'Astrophysique de Marseille).

O estudo dos ângulos de inclinação orbital dos exoplanetas WASP foi feito com o instrumento HARPS montado no telescópio de 3.6 metros e com o instrumento CORALIE montado no telescópio suíço Euler, ambos em La Silla, no hemisfério sul, e no Observatório Tautenburg, no Observatório McDonald e no Nordic Optical Telescope, no hemisfério norte.

[4] Exoplanetas do tipo Júpiter quente são planetas com massas similares ou maiores do que a de Júpiter, que orbitam as suas estrelas hospedeiras em órbitas muito mais próximas da estrela do que qualquer planeta do nosso Sistema Solar se encontra do Sol. Como são grandes e estão próximo da estrela hospedeira são mais fáceis de detectar através do seu efeito gravitacional sobre a estrela e ao mesmo tempo têm mais probabilidade de transitar o disco da estrela. A maior parte dos primeiros exoplanetas descobertos pertence a esta classe de objectos.

Informações adicionais

O ESO, o Observatório Europeu do Sul, é a mais importante organização europeia intergovernamental para a investigação em astronomia e é o observatório astronómico mais produtivo do mundo. O ESO é financiado por 14 países: Áustria, Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Itália, Holanda, Portugal, Reino Unido, República Checa, Suécia e Suíça. O ESO destaca-se por levar a cabo um programa de trabalhos ambicioso, focado na concepção, construção e funcionamento de observatórios astronómicos terrestres de ponta, que possibilitam aos astrónomos importantes descobertas científicas. O ESO também tem um papel importante na promoção e organização de cooperação na investigação astronómica. O ESO mantém em funcionamento três observatórios de ponta, no Chile: La Silla, Paranal e Chajnantor. No Paranal, o ESO opera o Very Large Telescope, o observatório astronómico, no visível, mais avançado do mundo. O ESO é o parceiro europeu do revolucionário telescópio ALMA, o maior projecto astronómico que existe actualmente. O ESO encontra-se a planear o European Extremely Large Telescope, E-ELT, um telescópio de 42 metros que observará na banda do visível e próximo infravermelho. O E-ELT será “o maior olho no céu do mundo”.

Links

Contactos

Didier Queloz
Geneva Observatory, University of Geneva
Geneva, Switzerland
Tel: +41 22 379 2477
Email: didier.queloz@unige.ch

Andrew Collier Cameron
University of St Andrews
Scotland
Tel: +44 1334 463147
Email: Andrew.Cameron@st-and.ac.uk

Henri Boffin
ESO La Silla-Paranal/E-ELT Press Officer
Garching, Germany
Tel: +49 89 3200 6222
Telm: +49 174 515 43 24
Email: hboffin@eso.org

Margarida Serote (Contacto de imprensa em Portugal)
Rede de Divulgação Científica do ESO e Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço,
Tel: +351 964951692
Email: eson-portugal@eso.org

Connect with ESO on social media

Este texto é a tradução da Nota de Imprensa do ESO eso1016, cortesia do ESON, uma rede de pessoas nos Países Membros do ESO, que servem como pontos de contacto local com os meios de comunicação social, em ligação com os desenvolvimentos do ESO. A representante do nodo português é Margarida Serote.

Sobre a Nota de Imprensa

Nº da Notícia:eso1016pt
Nome:WASP 8b
Tipo:Milky Way : Star : Circumstellar Material : Planetary System
Facility:ESO 3.6-metre telescope, Swiss 1.2-metre Leonhard Euler Telescope
Instrumentos:HARPS
Science data:2010ApJ...709..159A
2010AJ....140.2007M
2010A&A...524A..25T
2010A&A...517L...1Q

Imagens

Artist’s impression of an exoplanet in a retrograde orbit
Artist’s impression of an exoplanet in a retrograde orbit
apenas em inglês
Gallery of exoplanets with retrograde orbits (artist's impression)
Gallery of exoplanets with retrograde orbits (artist's impression)
apenas em inglês
Artist’s impression of an exoplanet in a retrograde orbit (without additional graphics)
Artist’s impression of an exoplanet in a retrograde orbit (without additional graphics)
apenas em inglês

Vídeos

Artist’s impression of an exoplanet WASP 8b in a retrograde orbit
Artist’s impression of an exoplanet WASP 8b in a retrograde orbit
apenas em inglês

Our use of Cookies

We use cookies that are essential for accessing our websites and using our services. We also use cookies to analyse, measure and improve our websites’ performance, to enable content sharing via social media and to display media content hosted on third-party platforms.

You can manage your cookie preferences and find out more by visiting 'Cookie Settings and Policy'.

ESO Cookies Policy


The European Organisation for Astronomical Research in the Southern Hemisphere (ESO) is the pre-eminent intergovernmental science and technology organisation in astronomy. It carries out an ambitious programme focused on the design, construction and operation of powerful ground-based observing facilities for astronomy.

This Cookies Policy is intended to provide clarity by outlining the cookies used on the ESO public websites, their functions, the options you have for controlling them, and the ways you can contact us for additional details.

What are cookies?

Cookies are small pieces of data stored on your device by websites you visit. They serve various purposes, such as remembering login credentials and preferences and enhance your browsing experience.

Categories of cookies we use

Essential cookies (always active): These cookies are strictly necessary for the proper functioning of our website. Without these cookies, the website cannot operate correctly, and certain services, such as logging in or accessing secure areas, may not be available; because they are essential for the website’s operation, they cannot be disabled.

Cookie ID/Name
Description/Purpose
Provider (1st party or 3rd party)
Browser session cookie or Stored cookie?
Duration
csrftoken
XSRF protection token. We use this cookie to protect against cross-site request forgery attacks.
1st party
Stored
1 year
user_privacy
Your privacy choices. We use this cookie to save your privacy preferences.
1st party
Stored
6 months
_grecaptcha
We use reCAPTCHA to protect our forms against spam and abuse. reCAPTCHA sets a necessary cookie when executed for the purpose of providing its risk analysis. We use www.recaptcha.net instead of www.google.com in order to avoid unnecessary cookies from Google.
3rd party
Stored
6 months

Functional Cookies: These cookies enhance your browsing experience by enabling additional features and personalization, such as remembering your preferences and settings. While not strictly necessary for the website to function, they improve usability and convenience; these cookies are only placed if you provide your consent.

Cookie ID/Name
Description/Purpose
Provider (1st party or 3rd party)
Browser session cookie or Stored cookie?
Duration
Settings
preferred_language
Language settings. We use this cookie to remember your preferred language settings.
1st party
Stored
1 year
ON | OFF
sessionid
ESO Shop. We use this cookie to store your session information on the ESO Shop. This is just an identifier which is used on the server in order to allow you to purchase items in our shop.
1st party
Stored
2 weeks
ON | OFF

Analytics cookies: These cookies collect information about how visitors interact with our website, such as which pages are visited most often and how users navigate the site. This data helps us improve website performance, optimize content, and enhance the user experience; these cookies are only placed if you provide your consent. We use the following analytics cookies.

Matomo Cookies:

This website uses Matomo (formerly Piwik), an open source software which enables the statistical analysis of website visits. Matomo uses cookies (text files) which are saved on your computer and which allow us to analyze how you use our website. The website user information generated by the cookies will only be saved on the servers of our IT Department. We use this information to analyze www.eso.org visits and to prepare reports on website activities. These data will not be disclosed to third parties.

On behalf of ESO, Matomo will use this information for the purpose of evaluating your use of the website, compiling reports on website activity and providing other services relating to website activity and internet usage.

ON | OFF

Matomo cookies settings:

Cookie ID/Name
Description/Purpose
Provider (1st party or 3rd party)
Browser session cookie or Stored cookie?
Duration
Settings
_pk_id
Stores a unique visitor ID.
1st party
Stored
13 months
_pk_ses
Session cookie temporarily stores data for the visit.
1st party
Stored
30 minutes
_pk_ref
Stores attribution information (the referrer that brought the visitor to the website).
1st party
Stored
6 months
_pk_testcookie
Temporary cookie to check if a visitor’s browser supports cookies (set in Internet Explorer only).
1st party
Stored
Temporary cookie that expires almost immediately after being set.

Additional Third-party cookies on ESO websites: some of our pages display content from external providers, e.g. YouTube.

Such third-party services are outside of ESO control and may, at any time, change their terms of service, use of cookies, etc.

YouTube: Some videos on the ESO website are embedded from ESO’s official YouTube channel. We have enabled YouTube’s privacy-enhanced mode, meaning that no cookies are set unless the user actively clicks on the video to play it. Additionally, in this mode, YouTube does not store any personally identifiable cookie data for embedded video playbacks. For more details, please refer to YouTube’s embedding videos information page.

Cookies can also be classified based on the following elements.

Regarding the domain, there are:

  • First-party cookies, set by the website you are currently visiting. They are stored by the same domain that you are browsing and are used to enhance your experience on that site;
  • Third-party cookies, set by a domain other than the one you are currently visiting.

As for their duration, cookies can be:

  • Browser-session cookies, which are deleted when the user closes the browser;
  • Stored cookies, which stay on the user's device for a predetermined period of time.

How to manage cookies

Cookie settings: You can modify your cookie choices for the ESO webpages at any time by clicking on the link Cookie settings at the bottom of any page.

In your browser: If you wish to delete cookies or instruct your browser to delete or block cookies by default, please visit the help pages of your browser:

Please be aware that if you delete or decline cookies, certain functionalities of our website may be not be available and your browsing experience may be affected.

You can set most browsers to prevent any cookies being placed on your device, but you may then have to manually adjust some preferences every time you visit a site/page. And some services and functionalities may not work properly at all (e.g. profile logging-in, shop check out).

Updates to the ESO Cookies Policy

The ESO Cookies Policy may be subject to future updates, which will be made available on this page.

Additional information

For any queries related to cookies, please contact: pdprATesoDOTorg.

As ESO public webpages are managed by our Department of Communication, your questions will be dealt with the support of the said Department.