Nota de Imprensa
Iluminando o Esqueleto Cósmico
3 de Novembro de 2009
Astrónomos encontraram um gigantesco grupo de galáxias, anteriormente desconhecido, situado a quase sete milhares de milhões de anos-luz de distância. A descoberta, apenas possível combinando dois dos telescópios terrestres mais poderosos do mundo, é a primeira observação duma tal estrutura de galáxias no Universo distante, fornecendo-nos preciosa informação sobre a rede cósmica e o seu processo de formação.
"A matéria não se encontra uniformemente distribuída no Universo,” diz Masayuki Tanaka do ESO, que liderou este trabalho. “Na nossa vizinhança cósmica, as estrelas formam-se em galáxias e as galáxias formam normalmente grupos e enxames de galáxias. Teorias cosmológicas mundialmente aceites predizem que a matéria também se aglomera a larga escala, na chamada “rede cósmica”, na qual as galáxias, imersas em filamentos, que se estendem entre espaços vazios, criam uma gigantesca estrutura em tufos."
Estes filamentos têm milhões de anos-luz de comprimento e constituem o esqueleto do Universo: as galáxias aglomeram-se em seu redor e enormes enxames de galáxias formam-se nas suas intersecções, esperando, qual aranhas gigantes, por mais matéria para “digerir”. Os cientistas debatem-se na tentativa de compreender como é que estas estruturas se formam. Embora estruturas filamentares de grande massa tenham sido frequentemente observadas a relativamente pouca distância de nós, evidência sólida da sua existência no Universo distante ainda não existia.
A equipa liderada por Tanaka descobriu uma estrutura enorme em torno dum enxame de galáxias distante, em imagens obtidas anteriormente. Utilizaram então, dois telescópios terrestres de grandes dimensões para estudar em mais detalhe esta estrutura, medindo a distância a todas as galáxias e obtendo, deste modo, um mapa a três dimensões da estrutura. As observações espectroscópicas foram feitas com o instrumento VIMOS montado no Very Large Telescope do ESO e com o instrumento FOCAS montado no Telescópio Subaru, o qual é operado pelo Observatório Astronómico Nacional do Japão.
Graças a estas e outras observações, os astrónomos puderam fazer um verdadeiro estudo demográfico desta estrutura. Identificaram assim vários grupos de galáxias em torno do enxame de galáxias principal. Distinguiram dezenas de tais aglomerações, cada uma com, tipicamente, dez vezes a massa da nossa Via Láctea - e algumas com um milhar de vezes este valor. A estimativa para a massa do enxame é de cerca de, pelo menos, dez mil vezes a massa da Via Láctea. Algumas destas aglomerações estão a sentir a atracção gravitacional fatal do enxame, pelo que irão eventualmente ser “engolidas” por este.
“Esta é a primeira vez que observamos uma estrutura tão rica e proeminente no Universo distante,” diz Tanaka. “Podemos agora passar da demografia para a sociologia e estudar como é que as propriedades das galáxias dependem do seu meio, numa altura em que o Universo tinha apenas dois terços da sua idade actual.”
O filamento situa-se a cerca de 6.7 milhares de milhões de anos-luz de distância e estende-se por cerca de 60 milhões de anos-luz. No entanto, a nova estrutura descoberta é provavelmente maior, parecendo estender-se para além do limite observado pela equipa. Por isso mesmo, novas observações foram já planeadas no sentido de obter uma medida definitiva do seu tamanho.
Informações adicionais
Este trabalho foi apresentado num artigo publicado na revista da especialidade Astronomy & Astrophysics Journal: The spectroscopically confirmed huge cosmic structure at z = 0.55, by Tanaka et al.
A equipa é composta por Masayuki Tanaka (ESO), Alexis Finoguenov (Instituto Max-Planck-Institute para a Física Extra-terrestre, Garching, Alemanha e Universidade de Maryland, Baltimore, USA), Tadayuki Kodama (Observatório Astronómico Nacional do Japão, Tóquio, Japão), Yusei Koyama (Departamento de Astronomia, Universidade de Tóquio, Japão), Ben Maughan (Laboratório de Física H.H. Wills, Universidade de Bristol, UK) e Fumiaki Nakata (Telescópio Subaru, Observatório Astronómico Nacional do Japão).
O ESO, o Observatório do Sul Europeu, é a mais importante organização europeia intergovernamental para a investigação em astronomia e é o observatório astronómico mais produtivo do mundo. O ESO é financiado por 14 países: Áustria, Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Itália, Holanda, Portugal, Reino Unido, República Checa, Suécia e Suíça. O ESO destaca-se por levar a cabo um programa de trabalhos ambicioso, focado na concepção, construção e funcionamento de observatórios astronómicos terrestres de ponta, que possibilitam aos astrónomos importantes descobertas científicas. O ESO também tem um papel importante na promoção e organização de cooperação na investigação astronómica. O ESO mantém em funcionamento três observatórios de ponta, no Chile: La Silla, Paranal e Chajnantor. No Paranal, o ESO opera o Very Large Telescope, o observatório astronómico, no visível, mais avançado do mundo. O ESO é o parceiro europeu do revolucionário telescópio ALMA, o maior projecto astronómico que existe actualmente. O ESO encontra-se a planear o European Extremely Large Telescope, E-ELT, um telescópio de 42 metros que observará na banda do visível e próximo infravermelho. O E-ELT será “o maior olho no céu do mundo”.
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Sobre a Nota de Imprensa
Nº da Notícia: | eso0941pt |
Legacy ID: | PR 41/09 |
Nome: | Galaxy, Universe |
Tipo: | Early Universe : Cosmology : Morphology : Large-Scale Structure |
Facility: | Subaru Telescope, Very Large Telescope |
Instrumentos: | VIMOS |
Science data: | 2009A&A...505L...9T |