Envolvimento Português no Observatório Europeu do Sul

 


Observações com a câmara HAWK-I montada no VLT do ESO, lideradas por investigadores em Portugal, mostram o enxame estelar RCW 38 em toda a sua glória. Crédito: ESO/K. Muzic

Portugal aderiu ao ESO como Estado Membro a 7 de Maio de 2001. A comunidade de cientistas e engenheiros do país tem contribuído de forma crucial para muitos projetos do ESO, levando a cabo trabalhos de investigação com infraestruturas do ESO, desenvolvendo telescópios e instrumentação avançada, formando cientistas, engenheiros e comunicadores. Têm sido também adjudicados muitos contratos à indústria portuguesa.

Portugal contribui atualmente com 1,19% ao orçamento anual do ESO, num valor de 2 285 000 de euros. 

A meados de 2022, havia 10 portugueses a trabalhar no ESO, nove na Alemanha e um no Chile. Adicionalmente, e desde 2004, o ESO atribuiu 25 bolsas a portugueses (6 ao nível universitário, 11 de pós-doutoramento e 8 para estágios). 

Portugal faz-se representar nos vários orgãos de direção e aconselhamento do ESO por astrónomos e especialistas políticos; os atuais representantes portugueses nos vários comités do ESO com representação nacional podem ser consultados neste link

A Rede de Divulgação Científica do ESO (ESON) inclui representantes portugueses que servem de ponto contacto entre o ESO e os media locais e o público. 

Seguem-se algumas informações sobre o envolvimento de Portugal no ESO. 

Descobertas feitas por astrónomos a trabalhar em Portugal com o auxílio de telescópios do ESO

Existem muitos investigadores portugueses e/ou a trabalhar em instituições portuguesas envolvidos em importantes descobertas científicas levadas a cabo com o auxílio das infraestruturas do ESO, incluindo várias das 10 descobertas principais do ESO. As descobertas dos últimos anos incluem

  • Um estudo liderado por João Faria, investigador no Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA/UPorto), que incluiu muitos outros investigadores portugueses de várias instituições, descobriu um novo planeta em torno de Proxima Centauri, a estrela mais próxima do Sol. Com o auxílio de um dos principais caçadores de exoplanetas do ESO, o ESPRESSO, montado no Very Large Telescope (VLT) do ESO, a equipa conseguiu detectar o sinal do planeta, uma descoberta extraordinária. 
  • Outro importante resultado recente liderado por investigadores a trabalhar em Portugal foi a descoberta de um planeta quente do tipo da Terra com metade da massa de Vénus em órbita de uma estrela próxima de nós. Olivier D. S. Demangeon, do IA/UPorto, Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP), Portugal e Departamento de Física e Astronomia, Faculdade de Ciências, Universidade do Porto, liderou este estudo.
  • Investigadores portugueses, que incluem Susana Barros (IA/UPorto), Alexandre Correia (Universidade de Coimbra) e Nuno Santos (IA/UPorto) fazem parte da equipa que descobriu e estudou um misterioso sistema de seis exoplanetas com a ajuda do VLT do ESO.
  • Descobertas chave relacionadas com o buraco negro situado no centro da nossa Galáxia foram levadas a cabo pela colaboração GRAVITY, da qual são membros António Amorim (CENTRA, Universidade de Lisboa) e Paulo Garcia, investigador no Centro de Astrofísica e Gravitação (CENTRA) e Universidade do Porto. Resultados recentes incluem a descoberta de que uma estrela que se move perto do buraco negro segue uma órbita que é prevista de modo exato pela Teoria da Relatividade Geral de Einstein, e a obtenção da medição mais precisa até à data da massa do buraco negro por seguimento das órbitas das estrelas no centro da nossa Via Láctea.
  • Com o auxílio da câmara HAWK-I montada no VLT, uma equipa de astrónomos liderada por Koraljka Muzic (CENTRA, Universidade de Lisboa) e Joana Ascenso (a trabalhar no CENTRA & Universidade do Porto na altura deste resultado) obteve uma das imagens mais extraordinárias de sempre do enxame estelar RCW 38. Como podemos ver na imagem apresentada no topo desta página, as nuvens do enxame resplandecem com um detalhe impressionante, com braços escuros de poeira a passar pelo núcleo brilhante deste jovem grupo de estrelas.
  • David Sobral, da Universidade de Lisboa e do Observatório de Leiden nos Países Baixos, liderou uma equipa de astrónomos que descobriu a galáxia mais brilhante do Universo primordial, com fortes evidências de que a primeira geração de estrelas se encontra no seu seio.  

Envolvimento português em instrumentos e telescópios do ESO instalados nos observatórios do ESO

Portugal contribui de muitos modos para o ESO, com instituições portuguesas por detrás de instrumentos já existentes ou em desenvolvimento para os telescópios dos observatórios do ESO, entre eles: 

  • ESPRESSO, um espectrógrafo de alta resolução, cujo principal objetivo científico é detectar e caracterizar planetas como a Terra em zonas de habitabilidade de estrelas do tipo solar. As Universidades de Lisboa e Porto fazem parte do consórcio.
  • GRAVITY, um espectrógrafo e combinador de raios na banda K do VLTI, cujo objetivo científico principal é caracterizar o buraco negro supermassivo situado no Centro Galáctico. A Universidade de Lisboa faz parte do consórcio.
  • MAD, um demonstrador de óptica adaptativa multi-conjugada que, como o nome indica, pretende demonstrar tecnologias de óptica adaptativa multi-conjugada. Um consórcio liderado pela Universidade de Lisboa foi responsável por desenvolver a Câmara para o instrumento de Óptica Adaptativa Multi-Conjugada, que foi utilizado pelo MAD para avaliar a sua capacidade de correção.
  • MOONS, futuro instrumento de terceira geração do VLT que operará no infravermelho. O seu objetivo científico principal é caracterizar a formação e evolução de galáxias e investigar o centro da Via Láctea. A Universidade de Lisboa faz parte do consórcio.
  • NIRPS é um caçador de planetas recentemente instalado no telescópio de 3,6 metros do ESO no Observatório de La Silla. Este espectrógrafo infravermelho de alta resolução caracterizará exoplanetas de pequena massa, incluindo planetas rochosos situados em zonas de habitabilidade. O IA/UPorto e a Universidade de Lisboa são membros do consórcio.

Envolvimento português nos instrumentos do ELT

Portugal participa também no desenvolvimento de vários instrumentos para o futuro Extremely Large Telescope (ELT) do ESO, que será o maior olho do mundo virado para o céu, nomeadamente

  • ANDES (conhecido anteriormente por HIRES), um espectrógrafo de alta resolução, cujo principal objetivo científico é caracterizar atmosferas de exoplanetas, incluindo planetas do tipo da Terra, com o objetivo final de procurar assinaturas de vida. O Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, Universidade de Lisboa & Universidade do Porto, fazem parte do consórcio.
  • METIS, uma câmara e espectrógrafo no infravermelho médio, cujo objetivo científico principal é caracterizar discos protoplanetários e exoplanetas. O CENTRA, Universidade de Lisboa, é membro do consórcio.
  • MOSAIC, um espectrógrafo multi-objeto que pode estudar muitos objetos ao mesmo tempo e cujo objetivo científico principal é estudar as primeiras galáxias. A Universidade de Lisboa faz parte do consórcio.

Contribuições industriais e tecnológicas portuguesas ao ESO 

As companhias portuguesas têm dado importantes contribuições industriais e tecnológicas ao ESO ao longo dos anos. Por exemplo, a companhia portuguesa A. Silva Matos, S.A. foi encarregada de fabricar e entregar os tanques de gás petrolífero liquefeito no local onde está instalado o ALMA.  

Contribuições da indústria portuguesa para o ELT 

As contribuições das companhias portuguesas para o Extremely Large Telescope do ESO são particularmente significativas e incluem

  • Critical Software S.A. à qual foi adjudicado um contrato para serviços de consultoria para validação e verificação independente de software para o ELT.
  • ISQ - Instituto de Soldadura e Qualidade que foi contratado para fornecer serviços de consultoria de garantia de qualidade para o projeto.
  • Active Space Technologies que levou a cabo design conceptual para a unidade de calibração de óptica adaptativa do ELT. 

Envolvimento adicional

Formação de engenheiros portugueses no ESO

Em 2013, o ESO e a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) assinaram um acordo de colaboração relativo à formação profissional de licenciados em tecnologias disponíveis no ESO. No âmbito desta colaboração, o ESO acolhe um número limitado de licenciados portugueses em Tecnologias nas suas instalações, com o objetivo de levar a cabo um programa de formação em exercício, especialmente concebido para ir ao encontro das necessidades da indústria e das organizações de investigação em Portugal. 

Comunicação, educação e divulgação científicas

Desde 2012 que o Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP) organiza o AstroCamp, uma escola de verão de astronomia destinada a alunos do ensino secundário. Desde 2017 que o ESO tem vindo a apoiar o campo, atribuindo uma bolsa que cobre todas as despesas do campo ao melhor candidato de um dos Estados Membros do ESO. 

Apoio ao uso de telescópios do ESO

O ESO dá apoio aos investigadores portugueses no que concerne o uso dos seus telescópios através do Departamento de Apoio ao Utilizador. Devido à sua complexidade, existe apoio especializado relativo ao uso do ALMA, através do Centro Português de Competência ALMA, assim como ao Interferómetro do Very Large Telescope através do Centro Português de Competência VLTI, liderado por Mercedes Filho (Instituto Superior Técnico, CENTRA). Este centro não está afiliado ao ESO.